Luto: o caminho árduo (mas necessário) a percorrer…
Sabemos que, a adaptação à perda envolve um enorme sofrimento, sendo que, esta dor pode envolver quatro “etapas” básicas. Apesar de tratar-se de uma experiência muito penosa é importante e necessário vivenciar cada uma das “etapas”. Não vivenciá-las pode prejudicar o crescimento e o desenvolvimento futuro. Apesar das “etapas” não abraçarem uma ordem precisa, isto porque se trata de um processo e não de um estado, estas requerem um esforço cognitivo envolvendo confrontação e reestruturação de pensamentos a propósito da perda. Nesta linha de raciocínio, abordar-se-á em seguida as “etapas” do caminho árduo (mas necessário) a percorrer, do que podemos chamar de processo de luto:
Aceitar a perda como algo real – Com frequência, tendemos oscilar entre a negação e a aceitação. A aceitação pode ser mais difícil em situações como o divórcio em que existe a possibilidade da pessoa regressar. É um período frequentemente descrito como “irreal” e em que a pessoa que vivencia a perda se sente desligada de tudo e “esmagada” pelo sofrimento e pela dor.
Vivenciar a dor da enorme tristeza e sofrimento – Esta “etapa” está associada com um tempo em que são vivenciados sentimentos extremos associados. Para a maioria de nós, os sentimentos surgem após a perda e pode sentir-se inclusivamente dor física intensa, frequentemente descrita como estando no cerne do estômago ou à volta do coração. Isto é habitualmente acompanhado por uma saudade intensa e procura de quem partiu. Visitar locais relacionados a essa pessoa, chamar o seu nome e chorar fazem parte da saudade. Em alguns momentos é possível que sinta que está a ficar “louco” com a intensidade da emoção. Com a aceitação da perda pode vir a raiva – pela pessoa que morreu, raiva consigo própria, com Deus, pode ainda, sentir-se tenso e irritável, ou vivenciar sentimentos de ansiedade e culpa.
Ajustar – se à vida sem o ente querido – Antes da fase de adaptação, é possível vivenciar um período alternado com a segunda “etapa”, em que tudo parece vazio e supérfluo. Experiencia-se falta de interesse por tudo e por vezes pode mesmo desejar-se morrer. Gradualmente, a pessoa começa a redescobrir novas estratégias de apoio, novos padrões e objetivos de vida. Isto é evidente em comportamentos que mostram que estão preparados para prosseguir em frente, como tirar férias, redecorar o apartamento, alterar a aparência física, ter um novo passatempo…
Aceitar a perda – Quando é aceite a perda, é possível estarmos perante um momento a partir do qual se começa a estar disponível para estabelecer novas relações, aceitar novos desafios. Claro que, o passado e os entes queridos são ainda lembrados e estimados mas estes sentimentos já não constituem um impedimento de apreciar e viver a vida.
Em ultima análise, para a maioria das pessoas a adaptação à perda desenrola – se de forma “normal”, com o apoio exclusivo da rede social natural e, embora implique um sofrimento desmedido, chegam a adaptar-se à perda e às suas consequências e, com o tempo, refazem as suas vidas. No entanto, existem alguns casos onde o luto não evolui de forma tão “concertada” e ocorrem consequências severas que podem afetar a saúde física e mental de quem vivencia uma situação de luto. O luto pode estar, em situações muito específicas, intimamente ligado a problemas de saúde como a perturbação depressiva, perturbação da ansiedade, abuso de substâncias e consumo de fármacos. E nestes casos é com toda a certeza necessário e prudente recorrer a apoio especializado que promova o bem-estar físico e emocional.