O Luto e a Dor Emocional
O luto é um acontecimento natural comum que pode desencadear a doença depressiva. Em particular, o luto pode provocar o embotamento afectivo que dure horas ou dias, seguido por um intenso período de saudade. Durante esta segunda fase pode ocorrer diminuição do apetite, dificuldade de memória e de concentração e irritabilidade ou depressão. Esta fase dá lugar, dias ou semanas mais tarde, a um período muitas vezes prolongado de amargura e dor emocional, marcado pela desorganização e pelo desespero; pode existir a sensação de que o ente querido que se perdeu está próxima e podem ocorrer alucinações hipnagógicas (ver ou ouvir a pessoa falecida durante estados de sonolência). Nas datas de aniversário o sofrimento emocional pode dar lugar à saudade e durante o segundo ano a maioria das pessoas sente que está a recuperar, à medida que entra na fase final de reorganização.
Os sintomas claramente depressivos no contexto do sofrimento emocional podem considerar-se normais. Ainda assim, quando esses sintomas são tão graves ou prolongados que causam um deterioramento significativo da capacidade de adaptarmo-nos às actividades da vida diária, justificam o recurso a apoio especializado.
A vivencia de luto persiste, em média, durante 3 a 6 meses, embora a sua desenvolvimento no tempo seja muito variável. Frequentemente, o sofrimento emocional que se segue ao luto consiste em três fases principais:
– Embotamento afectivo que dura desde algumas horas até algumas semanas.
– Pranto, com intensa saudade e sofrimento, características autonómicas, sentimento de inutilidade, anorexia, inquietação ou irritabilidade, preocupação relativamente ao ente querido que perdeu (incluindo alucinações transitórias), culpa e mesmo negação da realidade da morte.
– A aceitação e o reajustamento ocorrem várias semanas após o aparecimento do pranto.
Clinicamente pode considerar-se um luto atípico quando ocorre a vivência crónica de luto, que conduz uma doença depressiva, quando se denota uma inibição da vivencia do luto ou se a vivencia de luto é acompanhada por complicações psiquiátricas.